É parte do existir, do ser ante a sociedade, que se saiba de si, dos outros, do mundo, algumas coisas: quem é, o que pensa da vida, o que é certo e errado e demais informações e opiniões. Há aí alguns buracos, tapados com afirmações. Um queijo suíço. Quem se coloca em pé, se não souber responder prontamente tais perguntas?
Aprendemos a ter certezas das coisas. A saber que isto é isto, e se não é isto, é aquilo. Sim ou não. Bem ou mal. 0 ou 1: lógica binária. E no primeiro apontamento destas falsas obviedades, destas verdades mentirosas, num primeiro encontro com o paradoxo das relações (entre mundo e palavras) buscamos nas experiências, as certezas para negar o que está na cara: não adianta, sempre haverá uma rasteira, acostume-se a ficar perto do chão.
No chão está a verdade. E a verdade é: esqueça as verdades! Aceite os paradoxos: nunca diga nunca, veja o que não pode ser visto, escute o que não é dito. Não há matriz: suas referências podem ser importantes, um porto para não ficar a deriva, mas as vezes é importante se soltar nas águas.
Chão, água: algum lugar que não dentro de você, porque dentro de você não há nada mais do que uma mistura de um pouco do que você pensa que é, com o que sua memória revive do que você crê que viveu, do que esqueceu, com tudo o que você está passando agora, e suas pretensões impulsionadas por estas referências que de concretas só tem o nome, a palavra. Se há uma certeza, concordo com Jean Baudrillard, é a incerteza: A incerteza do mundo é que ele não tem equivalente em parte alguma e que ele não se troca com coisa alguma. A incerteza do pensamento é que ele não se troca nem com a verdade nem com a realidade.1
E vai se indo, se repetindo, sempre formando e tendo opiniões formadas. Até que vem Jorge Larrosa pronto para dar uma rasteira nos desavisados: a obsessão pela opinião também anula nossas possibilidades de experiência, [...] faz com que nada nos aconteça.2
As certezas nos fecham para as perguntas. Outra rasteira, Rubem Alves: as respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.3 Diria ainda que antes das respostas está a opinião, e esta nem te permite andar, mas girar em torno de si mesmo: um si que está fechado, pois se auto responde constantemente, sem perguntas.
E no momento em que você está tentando se erguer, adivinha! Deleuze e Guattari: você será organizado, você será um organismo, articulará seu corpo — senão você será um depravado. Você será significante e significado, intérprete e interpretado — senão será desviante. Você será sujeito e, como tal, fixado, sujeito de enunciação rebatido sobre um sujeito de enunciado — senão você será apenas um vagabundo.4
E agora? Aproveita que está deitado e descanse. Sim, retome as energias que você perdeu sendo um Homem de Caráter, uma Mulher Decidida, um Cidadão Consciente. Fique ao lado das formigas. Cheire a grama, pois ela não é feita para ser pisada. Role um pouco para um lado e para o outro. Imite uma minhoca. Se suje. Mas suje bastante, para que nenhuma modalidade de OMO possa te limpar.
Suje-se com a simplicidade das possibilidades. Pois você não precisa ser limpo, contornos visíveis, observações claras. Nada de rótulo, bula, manual ou painel de controle. Fique um pouco pelo chão, talvez ache uma moeda, então pode jogá-la numa fonte e fazer um pedido, pois o dinheiro não é só para adquirir. E se for, que o dê para um mendigo, porque para ele muito mais que para você, essa moeda terá um valor. Pois o essencial está na vida, no que é mais sensível, no sentir, viver. E pra isso não é tão necessário ter, quanto estar.
E quando for se levantar, que não seja para empinar o nariz, tirar uma foto 3x4, ou apontar o dedo. Que seja para cheirar, desenhar e tatear, ou brincar com as bolinhas que tirou do nariz. Que seja para dançar. E dançando ir ao ar. E do ar voltar ao chão. Pois é o movimento que te faz ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser, ser ,ser ,ser,ser,ser,ser,ser,ser,ser,ser,ser,sersersersersersersersersersersersersersererererrrrrs e r .
1, 2, 3, 4 Pra saber das referências, pergunte.
Essa não é minha resposta ao seu pedido “leia o blogg e diga o que achou”, é a reação que causou em mim ao falar contigo hoje, te "ler" e lembrar o que às vezes forjo. Veja:
ResponderExcluirhttp://devaneiosdeumacentopeia.blogspot.com/
Até
*blog
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