terça-feira, 10 de março de 2009

Pelo menos o chip.

Tem coisas nessa vida que são inevitáveis, outras quase. De inevitável mesmo talvez somente a morte. Há pouco fui assaltado, coisa de uma hora atrás. Virei a esquina, vi os caras, vi que eles me viram e também vi que eles viram que eu os vi. Tanto que minha reação foi atravessar a rua (um tanto previsível, diga-se de passagens) coisa que eles devem estar acostumados e se anteciparam (a final de contas, esse é o trabalho deles), me restando somente pensar: merda, lá vamos nós... E foi.
- Passa o celular! Não precisei responder, ele pegou por conta do meu bolso. - Passa o dinheiro! Eu respondi: calma, vou pegar a carteira, ta na mochila, mas só tenho seis reais (havia contado no ônibus, com o objetivo de saber se cabiam pães e frios no valor que eu tinha). Entreguei os seis. Ele duvidou, pediu mais. Expliquei que era só o que eu tinha e ele se certificou analisando minha carteira. – Passa o cartão do banco! No que retruquei: Pra quê?! Tu não tem a senha! (agora fico pensando: e se ele me pedisse a senha?! Ou me levasse ao banco a duas quadras dali para sacar?!). - Não, deixa o cartão! disse o outro (pois sim, não preciso contar que eram dois, extremamente fortes, maus e bem armados). Se foram, levando o meu ex-celular e minhas ex-três notas de dois reais. Mas não deixei por menos, antes que eles se afastassem me impus: - Será que vocês podem me devolver o chip? Coisa que eles fizeram de boa vontade. Porém, não conseguiram tirá-lo e pediram para eu fazê-lo. Sendo assim, tive a chance de me despedir do celular. Que descanse em paz!
Acontece que de tudo pouco me perturba. Digo, poderia ficar muito chateado, com medo, raiva, coisas assim. Mas quem se dispõem a refletir sobre as coisas, não pode simplesmente responder à ira e a humilhação que uma situação como está provoca. Porque, junto com o celular e a três notas de dois reais, foram um pouco do meu orgulho de Homem: essa coisa que ainda resta na gente, de precisar ser forte, corajoso, meio super-herói. Tudo por água a baixo.
Na reflexão sobre os fatos, considero que o assalto é resultado de uma necessidade. Claro que pode ser tanto para alimentar um filho quanto para comprar um tênis de marca ou sustentar um vício. Não sei. Mas sei que ninguém rouba se não precisa. Mesmo os cleptomaníacos: uma necessidade que surge da doença. Por outro lado, me parece que se eu fui humilhado, eles também devem sentir algo parecido. E acho que sentem, coisa que se reflete na forma de agir, como da outra vez que fui assaltado (sim, este foi apenas mais um episódio): sabem que estão tirando algo do outro e não levam o que não tem valor para eles, como os documentos, ao menos no meu caso, onde houve uma espécie de negociação.
No outro assalto nem levaram meu celular porque era muito velho (ironicamente é o que eu uso agora que o outro me deixou). Daquela vez eu disse: cara, to mau de grana! No que ele respondeu: Sim, mas nós estamos bem pior do que tu! Fiquei sem resposta para eles e para a faca. É uma espécie de distribuição de renda forçada.
Bom, a vida continua. Agora tenho um espetáculo de dança para assistir. Vou passar no banco se sacar mais dinheiro. Levo comigo o velho celular (aquele que os assaltantes não querem). Mas tenho um teatro com ar-condicionado me esperando. Talvez um bar com cerveja depois. Um teto bom e uma cama macia. O que será que tem os assaltantes?
Sei que eles tem o meu celular e seis reais.

Um comentário:

  1. Ai ai ai como mãe te acho muito ousado...te recomendaria mais cuidado,entrega tudo de uma vez e sai de fininho...mas como pessoa sou obrigada a admitir que tua capacidade de negociação ta boa hein...mas toma cuidado...saiba reconhecer o perigo ..te cuida..bjus!!!

    ResponderExcluir