Freqüentemente me reporto a imagem de um retorno ante a si: ao que sé é, ao que se foi, ao como se sente, se percebe, e se percebe pelos outros, ou de quais são esses mecanismos que, talvez ao modo de um espelho, nos aponto uma determinada forma de ser e estar consigo e com os outros no mundo.
Penso em um retorno, que não se distancia do eterno retorno de Nietzsche, mas que também não o é. Retorno: tornar-se a si, não bem como um espelho, por sua carência de perspectiva, mas como um espírito que sobrevoa o corpo, mas o corpo ainda em vida. Ou a exemplo da ficção em filmes como “De volta para o futuro”, onde pode se encontrar em um dado momento histórico e se observar.
A brevidade desta questão nos incursos de meus pensamentos e estudos não permitiram um estratificação de possibilidades e formas, mas uma solta análise do possível. Das mais consistentes, no sentido do estudo, está a arte, como possibilidade deste retorno. Como a crítica que põe em crise este ser no encontro com a arte. Como o riso, que do outro, com o outro, enquanto ri de si. Mas outras formas também são elaboradas de acordo com o seu campo de estudo, na psicologia, ou na fisioterapia, entre outros, de acordo com seu plano de imanência.
Plano de imanência, Deleuze e Guattari, O que é a Filosofia?
A filosofia também pensa esse retorno. Talvez seja este o tema mais recorrente, o motivo da filosofia ser filosofia: as inquietações ante o mundo, mas principalmente ante a si, pois o mundo passa por si antes de ser mundo.
Mas de alguma forma, me parece que este retorno, na psicologia, fisioterapia, filosofia, ou outros campos de estudo, buscam uma neutralidade, transpondo este retorno não a si, mas ao outro, como um exemplar humano, que incluiria também a si. Se estuda, se pensa, se analisa o outro, mas com um distanciamento que não toca diretamente a si, a não ser num segundo momento, quando se pensa as teorias e suas implicações sobre si.
Este retorno que penso, não se daria sem um soco na boca do estômago, ou uma rasteira num tombo de muito mal jeito. Não seria sem uma falta momentânea de ar, até quase o desmaio. Não seria se não algo intenso, como uma tal desestabilização do ser, que se não levasse a loucura, o levaria para um outro plano, não necessariamente mais superior, mas, no mínimo, mais intenso. Com a intensidade do olhar no olho, da pele com a pele, do corpo-a-corpo: mas trata-se do mesmo corpo. Era esse risco da loucura, que fazia com que os personagens do filme não se permitissem encontrar consigo, no passado ou futuro.
Continuo com a arte, continuo tendo nela uma forma desse retorno. Mas também penso no oriente, na meditação. Como também não descarto os alucinógenos, as drogas, embora esses possam levar a uma desterritorialização tão intensa, que não permita um resto de terra, onde se reconstruir, se territorializar depois. Um queda demasiado grande, onde se desceria em termos intensivos ou energético, em potência, após o efeito desse agente externo.
Voltar-se-para não implica somente se desviar, mas enfrentar, voltar-se, retornar, perder-se, apagar-se. (Deleuze e Guattari, O que é a Filosofia? P. 55)
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
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Menino que devaneia...gosto da escrita, que por vezes me faz perder, ou seria inventar outras direções? O equilíbrio está desequilíbrio...quem sabe?!
ResponderExcluirUm beijo e um abraço