sábado, 17 de janeiro de 2009

Tudo tem um começo. Ou não?!

Demorei-me para a primeira postagem. Talvez porque a primeira é sempre a primeira. As outras serão não menos importantes, ou mais interessantes, mas jamais serão a primeira.
Decidi então dar a esta postagem o papel de manual de instrução. Sendo assim, a primeira questão a ser entendida é: quem dá o que e para quem? Certamente, esta é uma decisão bem pessoal. Trocadilhos à parte, desejo questionar a minha colocação como autor, criador do blog e desta postagem. Começando do início, para entender a idéia do blog (para ambos entendermos, você e eu). Como se forma este discurso, esta escritura? Questionamento feito. Usarei o recurso de auxílio à lista (de livros e textos referência) para esmiuçar esta questão, dar a ela formas mais tangíveis.
Cito então Foucault, na sua aula inaugural no Collège de France, em 2 de dezembro de 1970: gostaria de perceber que no momento de falar uma voz sem nome me precedia há muito tempo: bastaria, então, que eu encadeasse, prosseguisse a frase, me alojasse, sem ser percebido, em seus interstícios.[...] Não haveria, portanto, começo; e em vez de ser aquele de quem parte o discurso, eu seria, antes, ao acaso de seu desenrolar, uma estreita lacuna. O ponto de seu desaparecimento possível. §
Uma tendência das postagens aqui é de que tenham, com alguma freqüência, e por variados motivos, citações. Digo os motivos que sei agora: nem sempre terei a capacidade de explicar o que pretendo sem este auxílio, ou citarei por ter o prazer de reler e citar, me excitar, e trazer para cá, o que está em mim e veio de lá, de algum lugar.
E está aí o segredo desta idéia de blog (tiro no pé, não se deve contar os segredos, ainda mais na internet, mas o farei com cautela): é o que vem de lá, ou dali, quiça está aqui, ou do lado de lá. Pode estar em cima do muro, ou do arame. Pode estar numa bolinha, numa poesia, música, ou nas páginas de um livro. Quem sabe nas palavras de um amigo, ou de uma moça bonita. Num quadro, numa roda, num circo. No passo, na dança. Num tropeço, ou num pássaro. Sabe-se lá onde estará, mas sabe-se que circunda por aí.
E o que circunda? Muita coisa. Mas para o blog é o que faço, vejo, ouço, é o que me toca. O que eu consigo perceber. Ou o que se faz perceber. Pois talvez seja maior do que eu: não necessariamente há está hegemonia minha em relação ao que circunda: seja este outro um indivíduo, ou um objeto, ou experiência, ou outro outro. Mas há de tocar meu corpo. Há de transpassá-lo. Movê-lo. Meu corpo. Os corpos.
É o corpo em devir de Deleuze: corpo como poder de afetar e ser afetado.© O corpo de Barthes, que é afetado pelo prazer do texto que é esse momento em que meu corpo vai seguir sua próprias idéias- pois meu corpo não tem as mesmas idéias que eu.¨ Um corpo que em Gil é paradoxal, que cria uma relação com o espaço ao seu redor, tão íntima, como as que tem consigo: um espaço do corpo.ª
O corpo que é sujeito numa sociedade, onde é treinado para ser produtivo, enquanto dócil. Quanto mais homogêneo, mais fácil pode ser asujeitado, submisso, manipulado. « Como escapar desse corpo?
Nesse mundo onde tudo vem da troca impossível. A incerteza do mundo é que ele não tem equivalente em parte alguma e que ele não se troca com coisa alguma. A incerteza do pensamento é que ele não se troca nem com a verdade nem com a realidade (Baudrillard).·
Por isso a arte, a poesia. Disse Borges: em poesia o sentimento basta, imagino. Se o sentimento nos invade, isso há de ser suficiente.µ
Disse Pessoa: Bastar-nos-ia sentir com clareza a vida
E nem repararmos para que há sentidos...
Å
Digo eu: de tudo o que está aí, no mundo, o que? Jaz aqui um espaço potência. Muito pode acontecer, ou nada. Aqui está um espaço para o que circunda, e para quem circundar. Porém, para tanto, é preciso entrar na dança, mesmo que não se saiba dançar (mas digo: isso é o que fizeram você pensar, todos sabemos dançar!).

§ A ordem do discurso. Michel Foucault. Edições Loyola:2007. p 5.
© Não sei. Escrevi na porta do meu guarda-roupa. Mas provavelmente Deleuze e Guattari com um dos Mil platôs. Da editora 34.
¨ O prazer do texto. Roland Barthes. Editora Perspectiva: 1987. p 26.
ª Movimento Total: o corpo e a dança. José Gil. Editora Iluminuras: 2005. p.47.
« Foucault 80 anos. Autêntica Editora: 2006. p.56.
· A troca impossível. Jean Baudrillard. Editora Nova Fronteira:2002. p. 9.
µ Esse ofício do verso. Jorge Luís Borges. Companhia das letras: 2007. p. 111.
Å Poesia completa de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Companhia de bolso: 2005. p. 67.

Caso não conheça os citados, caso queira, salve salve Wikipédia:
Michel Foucault: http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault
Gilles Deleuze: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gilles_Deleuze
Roland Barthes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Roland_Barthes
José Gil: http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Gil
Jean Baudrillard: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard
Jorge Luiz Borges: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Luiz_Borges
Fernando Pessoa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

2 comentários:

  1. Primeiro?? Acho que sim. E...primeirmente...eu não dou nada (tinha que ter um idiot pra falar isso) heheheh.
    Acho que entendi o mais ou menos o que Foucault quis dizer. Quer dizer, meu entendimento, pode não ser o que ele tenha tentado explicar. A questão é, acho eu, nossas idéias, são nossas? Sim são nossas,mas também são de todo mundo, acho eestou fugindo da questão..heheh...Mas de onde nossas idéias vêm? Nós a criamos ou elas estão por aí, esperando uma mente aberta e preparada para se manifestar? Eu prefiro acreditar na segunda opção.
    Prosseguindo. Um mente mal preparada, acomodada, tem por consequência, um corpo também neste estado. E neste estado, pouco podemos vêr do que muito circunda.
    As coisas, as idéias, a arte, sempre existiu e sempre vai existir, e sempre vai existir, em maior ou menor escala, pessoas que conseguem captá-las, e transformar em uma arte, digamos, mais palpável. Pois é muito fácil ver a arte em uma bela poesia, ou uma música. O difícil é vê-la nas coisas simples do nosso dia dia, para isso, é preciso mais do que dois olhos para ver.

    Mas, o que eu escrevo agora, já existia antes de mim...essas palavras....apenas as juntei...

    sabe se lá....

    Lembrei de um poema que escrevi, e acabo o comentário com ele:

    SABE SE LÁ?

    ‘’Sabe se lá
    O verão vai chegar?

    Sabe se lá
    Eu ainda hei te amar?

    Sabe se lá
    Existe nós dois?

    Sabe se lá
    Existe o depois?

    Sabe se lá
    É o posto de cá?

    Sabe se cá
    Vem antes do lar?

    Sabe se lar
    É o meu lugar?

    Sabe se lá’’

    ResponderExcluir
  2. Quer uma resposta minha ao teu primeiro questionamento?
    =P
    Bom te ler, te conhecer um pouquinho a cada dia (por mais que amanhã seja diferente...) e fazer parte disso tudo.

    ResponderExcluir