Uma moça graciosa me contou um fato que mal pude acreditar. Disse-me ela que roubaram o número da casa de seus avós. Como assim?! Contou ela que seu velhinho avô, fez um nove de papel para substituir o nove roubado.
Ela, indignada, exclamou: porque não deixam o número dos velhinhos em paz?
Boa pergunta.
Curioso, fiquei a pensar o que poderia ter acontecido com o tal nove. Será que era um material valioso? Pouco provável. Quem colocaria um nove de ouro para identificar sua residência? Talvez alguém morasse na casa número nove e, talvez por falta de dinheiro, pegou “emprestado” o nove do avô da moça. Talvez.
Fiquei triste pelos velhinhos.
Mas em seguida, fiquei feliz pelo nove. Sim, encontrei por aí a seguinte hipótese: levaram o nove para conhecer o mundo!
Pois, se coloque no lugar do nove: num belo dia você é feito, um bonito nove, ou um nove qualquer, não importa, você tem apenas uma função: numerar. Acabou-se aí. Pelo resto dos seus dias ficará preso à uma parede a numerar. Somente o carteiro lhe dará uma breve atenção, ou uma nova visita.
Imaginem que uma boa alma, ao perceber o triste nove, levou-o para passear. Como Amelie Poulain, que entregou o anão de jardim de seu pai a uma amiga aeromoça levá-lo para viajar, para ele conhecer o mundo para além das fronteiras de seu jardim.
Imagino a felicidade do nove. Consigo vê-lo conhecendo outros números, talvez até o abecedário. Tão grande é o mundo, porque ficar num só lugar? Penso como ele deve ter ficado alegre ao ver seu irmão gêmeo, grudado na camiseta da seleção brasileira, junto com o Ronaldo fazendo um gol na copa do mundo. Que orgulho!
E o nove conheceu o mundo, as coisas do mundo. Percebeu como somos belos, ou nem tanto, mas podemos ser. Podemos ser o nove que quisermos. Mas e todos os noves que estão presos, colados pelas paredes? Ele ficou um pouco triste. Mas logo desentristeceu, pois entendeu que alegre ou triste, ao menos não está mais indiferente, está sentindo.
Fiquei feliz pelo nove. Também fiquei feliz pelo papel, que deixou de ser papel e passou a ser número. Mas não consegui mais imaginar pra onde foi o nove, o que fez depois? Não sei. Pode até ter ficado um pouco confuso com o mundo que agora conhece.
Acho que pode ter doído sair da parede: confusão, incerteza, o desconhecido que assusta. Mas também o novo, o belo, o frio na barriga, as novas experiência, os sorrisos, os choros, a vida. O nove agora sabe. Só sabe quem se permite um dia não saber, e sair.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
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